quarta-feira, 30 de março de 2011

De A a Z: ABUTRES (Carancho)

 

 

image Dir. Pablo Trapero

Na Argentina, mais de 8.000 pessoas morrem em acidentes de trânsito a cada ano. Assombrosamente, porque ainda me espanto com coisas do tipo, por trás de todas essas tragédias existe uma máfia por prêmios de seguros e suas brechas legais. Sosa (Ricardo Darín) é um advogado que vive em hospitais públicos e delegacias em busca de potenciais clientes. Luján (Martina Gusman) é uma jovem médica que trabalha na emergência por falta de opção. Quando Luján está tentando salvar a vida de um homem que Sosa considera ser um cliente em potencial os dois se encontram e parece que algo mudará em suas vidas, mas a máfia não deixa ninguém se meter em seus negócios.

O triste do filme não são somente as cenas ou as situações vividas pelos personagens, mas a realidade vivida por todas as pessoas que moram em países regidos pelo direito e que seguem na direção da cultura capitalista do “ter para ser”. Trocando em miúdos, o direito, ou, as leis, são escritas uma vez e interpretadas para sempre, até que alguma coisa mude e faça a mudar, já que ela vem estabelecer regras para o que existe e não pode prever sanções para o que não há e, por isso, na maioria das vezes não trabalha com prevenção. Deste modo, a título de exemplo, um simples direito do cidadão como seguro contra acidentes de trânsito torna-se fonte de enriquecimento pela via corrupta, mas legal - no sentido da forma jurídica-  para alguns indivíduos. 

Os advogados são necessários para intermediar as relações entre o poder público e o privado, entre o indivíduo e os poderes, e entre indivíduos, assim, de posse e de direito de informações preciosas os advogados cooptam as vítimas dos acidentes e se aproveitam de sua simplicidade e, ou ignorância para “abocanhar” o que lhes caberia frente a uma situação de direito.

Você sabia que aqui no Brasil, todos os anos, os proprietários de automóveis são obrigados a pagar um tributo chamado Seguro Obrigatório, mais conhecido como DPVAT.

“Este seguro indeniza vítimas de acidentes causados por veículos que têm motor próprio (automotores) e circulam por terra ou por asfalto (via terrestre). Observe que nessa definição não se enquadram trens, barcos, bicicletas e aeronaves. É por isso que acidentes envolvendo esses veículos não são indenizados”.

“Você mesmo dá entrada nos pedidos de indenização e/ou de reembolso. O procedimento é simples, gratuito e não exige a contratação de intermediários. Basta juntar a documentação necessária e levar ao ponto de atendimento mais próximo”. http://www.dpvatseguro.com.br/conheca/oquee.asp

O que ocorre é que as pessoas, no geral, deconhecem seus direitos, e na maioria dos casos estão fragilizadas demais para pensar nisso. É quando os “abutres” entram em ação a pretexto de ajudar,e lucram, de maneira exorbitante, em cima do descaso do estado de direito. Médicos, policiais, enfermeiros, advogados, são muitas as ramificações que envolvem esta e outras maneiras de praticar a corrupção e se beneficiar com o sofrimento alheio.

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Apesar de ser argentino, o filme retrata um sentimento único e globalizante, rs…a corrupção crescente em estados de direito como os nossos.

P.S. Já assitiram“Obrigado por Fumar”? – falo sobre este no próximo.

quarta-feira, 23 de março de 2011

De A a Z: A Ponte

 

 

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Esta bela imagem é de um dos mais famosos pontos turísticos do mundo, a ponte Golden Gate, cartão postal do estado da Califórnia, nos EUA, que liga a cidade de  São Francisco a  Sausalito, na  região metropolitana de São Francisco. É uma das mais conhecidas construções dos Estados Unidos, e é considerada uma das Sete maravilhas do Mundo Moderno pela Sociedade Americana de Engenheiros Civis.

Em seu entorno praticam-se muito esportes. A vida parece pulular em seu esplendor, no entanto,  o documentário, A Ponte, não trata dessas belas imagens da vida, mas de outras tantas que para muito parecem terrivelmente obscuras, contra a natureza, já que se trata de algo contra a vida, o suicídio.

Assim, como tantas outras, esta imagem nos engana. Toda a beleza e opulência são, também, o retrato do desespero causado por este mesmo mundo que exalta e celebra o moderno e o pós moderno.

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O documentário é um retrato do desespero humano feita por uma equipe comandada pelo cineasta americano Eric Stell durante o ano de 2004. Foram registradas aproximadamente duas mortes por mês. Eric, com um rádio nas mãos, avisava as autoridades o que tinha acabado de testemunhar.

São cenas tristes, depoimentos de amigos e familiares.  O cineasta parece tentar  compreender as razões que levaram centenas de pessoas, entre 20 e 70 anos, a pular de uma altura de 130m até o mar.

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O longa de 93 minutos traz à tona o lado desesperado de quem está tentando se enquadrar no padrão de normalidades de nossas sociedades. O que leva algumas pessoas buscar tão triste fim? Como parentes e amigos lidam com tais tragédias? O suicídio é realmente “o fim” das angústias e das tristezas?

Recomendado para adultos.

Para os jovens sugiro uma reflexão, que também é uma reflexão filosófica:  como se deve levar a vida, e como nos vemos nela a partir de nossa individualidade, mas levando em consideração o bem estar social, ou seja, cada um tem seu estilo, e tudo bem,  mas a vida tem todos.

Deve ser por isso que considero que o padrão não serve!

domingo, 13 de março de 2011

De A a Z: Utopia e Barbárie

Este documentário dirigido por Sílvio Tendler tira o fôlego na hora do debate. Debate no sentido mesmo de luta oral, porque não há como ter diálogo quando o próprio conceito pressupõe a igualdade entre as partes mas as partes não concordam.

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Ora, na discussão política, ou seja, que diz respeito à Pólis, à cidade, ao espaço público e à opinião pública, para  os chamados esquerdistas, ou comunistas e afins, a sociedade deve servir-se comumente dos bens, sejam naturais ou não, o que pressupões igualdade… porém, este lugar onde todos são tratados como iguais significa, para outros tantos, os chamados direitistas ou neoliberais e afins, “utopia”, já que para estes as pessoas não são iguais e almejam coisas diferentes, o que justificaria, por isso, a utilização de meios “bárbaros” para calar o lado adversário, porque lembremos, aí não há diálogo.
Esquerda, direita, pra frente, pra trás, tudo isso não passa de nomenclatura para deixar clara a posição que se toma perante assuntos públicos, vale lembrar. Porém, como é elegida esta nomenclatura? Quem as elegeu?
A proposta de Sílvio Tendler é de uma revisão sobre os eventos políticos e econômicos que, desde a 2ª Guerra Mundial, elevaram o risco do desaparecimento dos sonhos de igualdade, justiça e harmonia  esquerdista.  Trata-se de documentos dos mais variados, depoimentos, imagens e lembranças de pessoas que compartilharam, por algum tempo, ou ainda partilham, a posição sócio –política definida como de esquerda.
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E por que tanto barulho dos chamados de direita frente à este documentário? A chamada história oficial omite estas memórias por quê? Um exemplo: se ouvimos falar sobre a Guerra do Vietnã todos saberemos do que se trata né? Ok, e se ouvirmos sobre a Guerra dos EUA, saberíamos do que se trata? Pois foram os Norte americanos que invadiram o Vietnã e não o contrário, então, por que admitimos e não questionamos esta nomenclatura que invade e se acomoda em nossa memória? Por que os livros didáticos omitem fatos que fazem parte da memória de uma parcela da população e que poderiam, ao serem mencionadas, mudar o modo com que percebemos o mundo em que vivemos? Tal é o caso de um filho adotivo que quer, um belo dia, conhecer seus pais biológicos… Há fatos que mudam o olhar e o caminho das pessoas…
Direita ou Esquerda o fato é que vivemos em uma Democracia e todos tem o direito de falar e expressar memórias e sentimentos…
No documentário há depoimentos de várias figuras interessantes e importantes no meio cultural brasileiro, tais como:
Augusto Boal, Cacá Diegues, Dennys Arcand, Tom Zé, Ferreira Gullar, Zé Celso Martinez, entre outros.
Vale muito ver, afinal, história oficial todo mundo teve na escola, rs.
Indicado a partir dos 15 anos de idade.

terça-feira, 8 de março de 2011

De A a Z: Ágora ou Alexandria

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Dirigido por Alejandro Amenábar
Carl Sagan, na obra “Cosmos” escreve sobre Hypátia, cuja vida é retratada no filme Ágora ou Alexandria:
"Hipátia distinguiu-se na matemática, na astronomia, na física e foi ainda responsável pela escola de filosofia neoplatônica - uma extraordinária diversificação de atividades para qualquer pessoa daquela época. Nasceu em Alexandria em 370. Numa época em que as mulheres tinham poucas oportunidades e eram tratadas como objetos, Hipátia moveu-se livremente e sem problemas nos domínios que pertenciam tradicionalmente aos homens. Segundo todos os testemunhos, era de grande beleza. Tinha muitos pretendentes mas rejeitou todas as propostas de casamento. A Alexandria do tempo de Hipátia - então desde há muito sob o domínio romano - era uma cidade onde se vivia sob grande pressão. A escravidão tinha retirado à civilização clássica a sua vitalidade, a Igreja Cristã consolidava-se e tentava dominar a influência e a cultura pagãs."
Tal foi a vida de uma das mulheres que a história oficial não contou, mas também não conseguiu apagar.
No ano 355 d.c.  nasce, na cidade de Alexandria, no Egito,  Hipátia. Fundada por Alexandre, o Grande e administrada pelo Império Roman a cidade era um importante foco de cultura. Seu pai, Theon, era diretor do Museu de Alexandria e com ele trocava idéias sobre matemática e astronomia. As conferências e palestras de Hípátia cativaram especialmente a Orestes e outros discípulos que viriam a assumir altos cargos na cidade.
A cidade tinha como cidadãos, vivendo em harmonia, os cristãos, os judeus e os pagãos.  No entanto, uma série de eventos  desencadearam mudanças que abalaram a história local e mundial, e é a isto que o filme tenta responder, ou seja, sob que circunstâncias, Hipátia, mulher de 60 anos, matemática, astrônoma e filósofa tão solene, foi morta tão violentamente por cristãos, no ano 415?
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O argumento foi escrito pelo próprio Alejandro e por Mateo Gil. Com duração de 126 minutos, a personagem central é a figura de Hipátia (interpretada pela atriz londrina, Rachel Weisz). A música magistral é de Dario Marianelli. O cineasta alcançou ótimo resultado para um contexto tão distante. Evitou ao máximo a utilização de imagem digital e queria da figurinista Gabriella Pescucci, um guarda-roupa que diferenciasse com facilidade os grupos envolvidos no drama: cristãos, judeus e alexandrinos.
     Devido a todas as dificuldades dos filmes históricos, estes dificilmente agradam aos mais exigentes. Além do que uma grande armadilha para o público em geral, é tentar compreender um fato histórico segundo o prisma do tempo em que vive. É preciso considerar o contexto da época e um certo grau de liberdade do cineasta, que optou em dar ênfase no amor platônico do discípulo e do escravo de Hipátia.
O modo com que a história é contada é deveras doloroso, porém, é sempre o incômodo que move o mundo e as reflexões. No dia internacional da Mulher poderíamos nos perguntar: o que siginifica o conceito de mulher? O que significa o conceito de mãe? E o que significa o conceito de igualdade em sociedades machistas?
Sugerido para estudantes do Ensino Médio e adultos em geral.

sexta-feira, 4 de março de 2011

De A a Z: Habana Blues

 

image Dirigido por Benito Zambrano

Esta é uma história como tantas outras histórias de pessoas que vivem e sonham em Cuba. Aqui trata-se de jovens músicos cujo sonho além de viver da música e para a música é poder ir e vir quando e para onde quiserem.

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Quem conhece a cultura cubana sabe que nada lhes faltam em termos do necessário, porém, a questão da liberdade sempre fala mais alto quando se está preso de alguma forma. Não importa, quando nesta situação,  quem está certo ou errado, o que importa são as possibilidades que não são acessíveis. Assim, quando se tem, talvez,  uma  única chance de mudar a situação, uns não pensam duas vezes, enquanto outros titubeiam e abrem mão dessa suposta liberdade.  É o caso de Ruy (Alberto Yoel) e Tito (Roberto Sanmartín). Enquanto preparam seu primeiro grande show descobrem que dois produtores espanhóis estarão recrutando talentos cubanos para levar para a Espanha.

Qual é o preço desta liberdade tão almejada? O que vem a ser liberdade? E as escolhas dependem do que? Do que se abre mão quando se quer algo?

O filme mostra jovens talentos que atuam e fazem um som maravilhoso!! A dupla principal é fantástica e a trilha sonora é de arrepiar. Vale assitir em família, para descontrair, mas também é um ótimo filme para sala de aula do EM, onde os temas liberdade  e política  são quase sempre os mais relevantes.

Ah, não posso deixar de citar a letra da música do Titãs que vislumbra o anseio de muitos jovens pelo mundo, mas também, e principalmente, daqueles cuja “liberdade” é cerceada por convicções políticas, partidárias e ou religiosas.

“Não sou brasileiro, não sou estrangeiro… eu não sou de nenhum lugar, sou de lugar nenhum… eu não sou de São Paulo, não sou japonês, eu não sou carioca, não sou português, eu não sou de Brasília não sou do Brasil, nenhuma pátria me pariu…”. Nenhum Lugar

terça-feira, 1 de março de 2011

De A a Z: Rio da Lua (Water)

 

image Dir. Deepa Mehta

Belíssimo filme! Triste e belo! Revoltante, talvez…com uma trilha sonora magnífica e uma fotografia tão boa quanto.

O filme conta a história de uma menina (Chuyia) que aos oitos anos de idade, já é viúva. E nunca conheceu o marido, já que quando casou-se era muito pequena. De acordo com a tradição ela é enviada para a casa das viúvas, onde  são obrigadas a ficar, isoladas da sociedade, até o final de suas vidas, sem que possam voltar a casar. Lá, a pequena conhece Kalyani, uma bela e jovem mulher de quem se torna amiga. Kalyani ousa desafiar as rígidas regras apaixonando-se por um jovem com quem pretende casar-se, mas a tradição, e a corrupção que a sustenta, levam a jovem para outro caminho, determinando também o destino de Chuyia.

Penso que a Cultura não é algo que se deva fixar. Qualquer tradição, embora mantenha unido um povo, um grupo, não permite o novo e se destina à morte: ou a morte de si própria ou a morte de seus seguidores que vêem-se amarrados por cordas frágeis e mortais. Tradição e autoridade só existem se nós as reconhecemos como tal, quando não, devem ser mudadas.

De acordo com o Senso de 2001, na Índia, há mais de 34 milhões de viúvas. Muitas continuam vivendo nas condições de privação social, econômica e cultural, determinadas dois mil anos atrás pelos textos sagrados hindús de Manu.

“Uma viúva deve sofrer

ser moderada e casta.

Esposa que segue a casta após a viuvez vai para o paraíso.

Uma mulher infiél renasce no útero de um chacal”

Leis de Manu, capítulo 5, versículos 156-161.

Indicado para adultos (só porque é legendado - minha filha de 9 anos assistiu e dormiu por causa disso). Vale também pela reflexão acerca da cultura e das tradições.

Lembro-me da canção do Tom Zé, Senhor Cidadão:

“Senhor cidadão, senhor cidadão, com quantos quilos de medo se faz uma tradição…senhor cidadão, senhor cidadão,  a tesoura no cabelo também corta a crueldade…”